Essa faceta do evangelho pós-moderno está profundamente ligada ao que chamei anteriormente de evangelho individual. Poderia dizer, aliás, que este artigo é uma continuação do artigo homônimo citado. Vou, portanto, com este artigo, ampliar o que já foi discutido. Sugiro, para melhor entendimento, que o leitor leia antes o artigo intitulado “O evangelho dos meios”, pois o autor referenciado nesse artigo também é Charles Finney.
Tentando explicar os vários pensamentos e teorias a respeito da obrigação moral que possui aquele que exerce o governo moral, Finney cita a Teoria do Interesse Próprio de Paley. As pessoas que pensam a obrigação moral através do prisma dessa teoria de Paley acabam agindo como se o próprio interesse fosse o bem supremo a ser buscado.
Talvez o leitor ache um absurdo que alguém pense de forma tão interesseira, mas temos de constatar que muitos cristãos pelo menos agem dessa maneira. A falta de amor de alguns por si só já é uma constatação de que não se considera o semelhante da mesma forma ou até mesmo de forma superior a si próprio. As práticas em nossas igrejas também não são tão diferentes; as mensagens dedicadas à satisfação do ego dos ouvintes e as canções entoadas com temas como “você vai vencer” também revelam isso. Nosso cristianismo realmente se tornou interesseiro.
É claro que esse nosso comportamento não se dá pelo entendimento da teoria de Paley, mas é possível encontrar reflexos dela num dos preceitos fundamentais do pentecostalismo; a chamada “fé no bom Deus”. Esse preceito diz que Deus é bom e que deseja o melhor para os Seus filhos. Deus deseja que Seus filhos sejam prósperos, abençoados, saudáveis, etc. Até aqui, tudo bem. Também creio num Deus bom e creio que a bondade dEle e a busca pelo bem-estar máximo do universo o obrigam a ser assim. O problema está em inverter a relação de importância, e isso é permitido pela fé no bom Deus. Por vários motivos, a fé no bom Deus pode servir para que líderes cristãos, visando contribuições altas ou uma igreja sempre cheia, invertam a relação de importância Deus>Interesse Próprio para Interesse Próprio>Deus. Obviamente, isso não é proclamado dos púlpitos (e creio até que muitos pastores e líderes cristãos, com base em suas vivências de “berço” evangélico, por exemplo, nem acredite ou realmente perceba que vive dessa forma. Sobre isso, falarei mais adiante.), mas o fato é que se age dessa forma e, implicitamente, inculca-se através das práticas religiosas a Teoria do Interesse Próprio de Paley.
A teologia da prosperidade, uma teologia claramente voltada ao interesse próprio, veio da fé no bom Deus. Esse é um bom exemplo de como se inverteu as relações.
Não quero dizer aqui que Deus não se importa com nossos problemas, ou que Ele esteja tão longe que não se importe conosco. Mais uma vez, estou alertando para que não invertamos a importância das coisas. É interessante observar hoje como as pessoas na igreja preferem ouvir palavras de satisfação pessoal ao invés de glorificarem a Deus por verdades perpétuas que perpassam a própria existência delas mesmas. Hoje, a mensagem da Cruz tem desaparecido dos púlpitos, as verdades eternas da santidade de Deus, da Sua dignidade e de Sua honra têm sumido de nossos cânticos. Temos preferido cantar sobre promessas e vitória sobre os nossos inimigos. Isso não é nada mais, nada menos que um evangelho interesseiro!
Que Deus nos ensine a viver um evangelho genuíno, tendo em vista sempre a glória dEle. Que possamos verdadeiramente dizer: “menos de nós, Senhor, e mais de Ti”.
* Referência: FINNEY, Charles. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.
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