Imagem de Capa

Imagem de Capa
Livro "Reflexões Sobre a Música Gospel Brasileira: Um Olhar Crítico", de José Ruy P. de Castro

Quem sou eu

Minha foto
José Ruy Pimentel de Castro, ou Zé Ruy, é vice-presidente do Instituto Política Global, professor, músico, cantor, compositor e poeta. É bacharel em Relações Internacionais pela UVV, licenciado pleno em Letras-Inglês pela UFES e mestrando em Relações Internacionais pela UNLP (Universidad Nacional de La Plata/Argentina). Autor do livro de poesias "Tricotomo", pela CBJE, e do livro "Reflexões Sobre a Música Gospel Brasileira: Um Olhar Crítico", pela Oxigênio Books em parceria com a Arte Editorial. Seu nome artístico em suas obras musicais é Zé Ruy e sua última obra foi lançada em 2008 intitulada "Será Que Existe Alguém Pra Nos Salvar?". O artista faz parte do cast da gravadora Oxigênio Records.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O EVANGELHO INDIVIDUAL

- Sobre o evangelho capenga das canções -

Donald A. Carson, teólogo, em seu livro “Os perigos da interpretação bíblica”, adverte-nos quanto a falácias que podem ocorrer durante a interpretação dos textos bíblicos. Sua análise se divide em vários tipos de falácias que podem ocorrer com respeito à semântica de um texto, à lógica empregada, entre outros. É importante que tanto pregadores como ouvintes saibam, ou pelo menos tenham alguma noção, de quais serão as “ratoeiras” de entendimento que podem ser usadas, ou nas quais possamos cair, que mudam o entendimento do texto das escrituras.


Primeiramente, há de se convir que o entendimento exato do que um dia foi dito e/ou escrito está muito longe de se ter. O que ainda nos guia no entendimento do texto é o seu contexto. Sendo assim, várias falácias podem ser usadas para que se passe mais do que o texto deseja transmitir, ou para adaptá-lo às experiências pessoais de alguém a fim de que se passem por verdades absolutas baseadas num texto sagrado.


O que chamo de evangelho individual aqui neste artigo é exatamente o que Carson chama de “confusão de cosmovisões” dentro do capítulo de “falácias lógicas”. Como ele próprio define, essa falácia “consiste em alguém acreditar que a experiência e a interpretação da realidade individuais de uma pessoa são a estrutura adequada para se interpretar o texto bíblico”. Numa época em que a teologia da prosperidade impera e os cultos antropocêntricos se proliferam, não há nada mais perigoso que isso. Carson nos dá um exemplo de como isso pode acontecer: “Ouvimos a Palavra de Deus ordenando que tomemos nossa cruz e sigamos o Senhor Jesus Cristo, e transferimos de tal forma nossa experiência individual para o texto bíblico que nossa ‘cruz’ torna-se reumatismo, falta de dinheiro, um parente irascível, um colega de quarto desagradável, uma derrota pessoal ou mesmo (Deus nos perdoe!) um gracejo”. Tudo isso, Carson adverte, são coisas externas. Na verdade, a cruz para os cristãos do primeiro século era a morte dolorosa proporcionada por ela. Isso nos mostra que o entendimento de “cruz” deveria ser interno (nós devemos morrer) e não externo (um problema que venhamos a passar e sofrer).


Tal interpretação, em confusão de cosmovisões, nos faz adaptar os textos das escrituras àquilo que melhor nos convém. Quanto a isso, Carson diz que é necessário que, ao interpretarmos um texto, mantenhamos distância dele. “A menos que reconheçamos a distância que nos separa do texto que está sendo estudado, iremos negligenciar diferenças de perspectiva, vocabulário e interesse; e involuntariamente estaremos transferindo nossa carga mental para o texto, sem nos determos para questionar se isso é apropriado”.


O evangelho individual é aquele que se encaixa e é aplicado de acordo com nossas vontades e conceitos. Muito me espanta, e me faz ficar receoso do futuro de nosso cristianismo, que as pessoas venham à igreja apenas para assistir um culto ou “receber a chave da vitória”. As mensagens são direcionadas às emoções do povo, e quanto mais “glória a Deus” se dá, mais avivada entende-se que a igreja é. Mas será isso realmente o que o evangelho pleno tem a proporcionar aos crentes? Será que não há mais mensagens que venham de encontro ao modo de vida das pessoas para que elas mudem aquilo que não condiz com uma vida de servo de Deus?


Meu desejo, através deste texto, é o de que seus leitores possam estar atentos às manipulações que os que usam da preleção possam fazer e, além disso, submeter sua própria vontade ao texto sagrado, e não o contrário. Precisamos nos distanciar o bastante para não sucumbirmos aos caminhos mentais que possamos tomar diante do texto e que nos leve para longe do seu entendimento, tendo sempre o cuidado de não nos distanciarmos tanto que não venhamos a ser tocados pela Palavra de Deus.


* Referência: CARSON, Donald A. Os Perigos da Interpretação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2005.

Um comentário:

  1. Muito interessante. Tentarei acompanhar seu blog assiduamente...

    ResponderExcluir