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Livro "Reflexões Sobre a Música Gospel Brasileira: Um Olhar Crítico", de José Ruy P. de Castro

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José Ruy Pimentel de Castro, ou Zé Ruy, é vice-presidente do Instituto Política Global, professor, músico, cantor, compositor e poeta. É bacharel em Relações Internacionais pela UVV, licenciado pleno em Letras-Inglês pela UFES e mestrando em Relações Internacionais pela UNLP (Universidad Nacional de La Plata/Argentina). Autor do livro de poesias "Tricotomo", pela CBJE, e do livro "Reflexões Sobre a Música Gospel Brasileira: Um Olhar Crítico", pela Oxigênio Books em parceria com a Arte Editorial. Seu nome artístico em suas obras musicais é Zé Ruy e sua última obra foi lançada em 2008 intitulada "Será Que Existe Alguém Pra Nos Salvar?". O artista faz parte do cast da gravadora Oxigênio Records.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

OS CAMINHOS DA MÚSICA CRISTÃ NO BRASIL

- Sobre as canções do evangelho capenga -
- Texto de autoria de Nelson Bomilcar e extraído do blog MC3 na Pauta http://mc3napauta1.blogspot.com/2008/10/os-caminhos-da-msica-crist-no-brasil.html -


 1. Introdução



Neste pequeno artigo/estudo, queremos fazer uma rápida análise história do uso da música na adoração e evangelização, entendendo um pouco mais de nossas raízes, de nossa herança, e também do que temos visto não só fora, como dentro da realidade no Brasil, além de termos mais alguns elementos para tentarmos tratar e lidar com as questões abaixo:


• Como podemos avaliar a herança que recebemos dos missionários? O que a história nos ensina e aponta?


• Como encarar a música produzida no Brasil hoje, tanto na adoração como na evangelização? Estamos abrindo mão do que cremos?


• Como encarar a cultura no processo criativo? Há limites que devemos respeitar na produção de música considerada cristã?


• Como lidar com as forças do marketing e de consumo tão presente em nosso meio?


• O que precisamos resgatar e não abrir mão na música que estamos fazendo?


• Tudo o que temos visto e ouvido pode ser considerado música cristã?É fundamental levarmos em conta o propósito da música na adoração e na evangelização. Adquirirmos informações e conhecermos mais do universo da música cristã, trará alguns balizamentos e ampliará nossos caminhos para a música que temos feito nas igrejas ou por músicos e compositores cristãos.



2. A música na adoração, nos primeiros séculos do cristianismo e seu desenvolvimento na reforma protestante.


• A música é uma forma legítima de expressão que pode e deve ser usada na adoração. O estudo histórico dos povos da Antiguidade sempre mostra o uso da música como forma de expressão e criatividade do homem.


• A música foi usada como parte das cerimônias civis e religiosas nas civilizações antigas. A música cantada ou tocada era uma importante manifestação do louvor do povo hebreu.


• Em 1 Crônicas 15:16-24 temos o registro do trabalho musical e de adoração feita pelos levitas, trabalho sério, profundo e organizado.


• O Salmo 150 mostra a universalidade da música e das inúmeras possibilidades de uso, considerando as diferentes realidades culturais.


• O uso terapêutico da música esteve sempre presente (modificou o estado de espírito de Saul, trabalha as emoções)


• O trabalho dos poetas cristãos foram sendo incluídos no repertório da igreja primitiva ( Ef 5.19; Col 3.16)


• O Novo Testamento mostra a dependência inicial das práticas judaicas.


2.1 Características da música na época da reforma

• Canto

• Instrumental


• Somente homens e meninos


• Ritmos dependentes dos textos


• Decreto de Constantino (ano 313), Santo Ambrósio (séc IV), São Gregório, papa de 590 a 604.

• Reforma: Lutero (1483-1546), poeta e músico organiza e busca um fortalecimento e depuração doutrinário e a música acompanha esta divisão eclesiástica, buscando suas distinções. A igreja nova procurou restaurar o canto congregacional. “Castelo Forte” torna-se conhecido como o hino da Reforma.


• Faz uso de melodias seculares para seus hinos e cânticos, num claro esforço na evangelização e popularizar as doutrinas da Reforma.


• Calvino se opôs ao uso de instrumentos musicais, cânticos e hinos com divisões e cujas letras não fossem extraídas das Escrituras.


• Historiadores musicais apontam o fato de que buscar melodias seculares para tornar a música cristã conhecida é um acontecimento familiar na história da igreja. 




3. A música na Igreja no Brasil


Os primeiros cânticos evangélicos soam no Brasil no próprio século de seu descobrimento, o mesmo da Reforma. Vários alemães viajantes como Hans Staden, Heliodoro Fobano e Ulrico Schmidel divulgaram a música de Lutero e de outras cantadas pela igreja calvinista na Baía de Guanabara.


a. Primeiro culto evangélico em 1557

b. Século XVII: início da atividade de adoração e música.


c. Século XVIII: silêncio de manifestações musicais


d. Século XIX: hinos de criação anglo-americana trazidos pelos missionários. Período caracterizado pela organização dos hinários eclesiásticos (1855 a 1932) e depois de consolidação (1932). Período fértil na música.


e. Pouca preocupação com nossa cultura, e quase não houve contextualização.


f. Música Cristã Contemporânea (final da década de 60 e início dos 70). O Jesus Movement aconteceu de roldão em meio a um avivamento, onde Jesus e seus ensinos tinham grande ênfase, em vez da institucionalização das igrejas norte-americanas. O grupo musical Love Song teve grande influência nesta época, junto do ministério da Calvary Chapel, do pastor Chuck Smith.


g. O ministério Maranatha Music teve grande influência, principalmente na missão Vencedores Por Cristo, fundada por Jaime Kemp, onde autores de cantatas e hinos como Kurt Kaiser, Otis Skillings, Ralph Carmichael, Don Wyrtzen (PV) tiveram espaço.Correndo o risco de esquecer alguém, permito-me a um flash:Vencedores através de suas gravações e ministério evangelístico, veiculou músicas em novos estilos de adoração e evangelização. Outros trabalhos como da Palavra da Vida (Harry Bolback), e de estilos populares tradicionais como Feliciano Amaral e Luís de Carvalho ganhavam espaço também, e as primeiras gravadoras evangélicas aparecem. Grupos como Novo Alvorecer, Mensagem, PAS, Vozes da Verdade, surgem no cenário evangélico.


h. A gravação do disco “De vento em Pôpa”, rompeu definitivamente com as barreiras culturais, trazendo nomes como Aristeu Pires (Brasília), Guilherme Kerr (Campinas), Sérgio Pimenta (Rio), Artur Mendes e Edy Chagas (Bauru), Nelson Bomilcar, Sérgio Leoto e Gerson Ortega (São Paulo), etc.


i. Tivemos também uma influência do Jairinho Gonçalves e Paulo César (PV, Elo e atualmente Logos), do Janires (Rebanhão e MPC) na evangelização e música jovem, coincidindo com o trabalho de David Wilkerson no Brasil na recuperação de toxicômanos e da igreja Cristo Salva do saudoso Tio Cássio, Maurão no trabalho com crianças, Wolô, excelente poeta junto à ABU, Edilson Botelho (Jovens da Verdade), Som Maior, entre os jovens batistas, Grupo Café entre presbiterianos, cada um dentro de seus estilos, trazendo novos ares para a música cristã.


j. O trabalho de Asaph Borba junto a Seara Evangelística no Sul, hoje Comunidade de Porto Alegre, trouxe novo alento na adoração comunitária e influenciou grandemente a igreja no Brasil., tendo como parceiros de visão Adhemar de Campos (Comunidade da Graça) e Gerson Ortega (VPC, Semente e atualmente na Igreja Cristã da Família), Bene Gomes e Alda Célia com o ministério Koinonia desde 88. Destaque para o trabalho brasileiro do MILAD.


k. Vale o registro do trabalho de Jorge Camargo, Jorge Rehder e João Alexandre pelas inúmeras músicas de louvor e de conteúdo evangelístico registrados em cantatas, discos, CDS, fitas e partituras, além do trabalho contextualizado do Josué Rodrigues, Expresso Luz, Carlinhos Veiga e Quarteto Vida junto à Mocidade Para Cristo.


l. Inúmeros cantores, bandas, ministros de louvor e músicos como Kleber Lucas, Ana Paula Valadão (Lagoinha), Carlinhos Félix, Massao Suguihara, Jônatas Liasch (Natinha), Banda Rara, Oficina G-3, Koinonia (Vitória), Carlos Sider (Mensagem), Gladir Cabral, Arlindo Lima (Belém), Daniel Maia, Maurício Caruso, Maurício Domene, Quico Fagundes(Brasília), David Neto, Hilquias Alves, em trabalhos instrumentais, Cia de Jesus, Cântaro, Sal da Terra, Céu na Boca (Brasília), tem influenciado grupos e regiões diversas.


Na área de coros, hinos, partituras, educação e estruturação de trabalhos musicais em igrejas locais e instituições de ensino teológico-musical, tivemos grande influência de João Faustini, Jaci Maraschin, Almir Rosa, Fred e Edward Span, Dick Torrans, Simei Monteiro, Nabor Nunes, Nelson Mathias e Williams Costa Júnior, nas diversas denominações.


Louvamos a Deus pelo sopro do Espírito Santo em nossa nação nestas últimas décadas. Manifestações de poder, quebrantamento, mais informalidade e autenticidade, maior participação no louvor, edificação, cuidado maior em nossas instituições teológicas de ensino quanto a música, visão profética na adoração, são ganhos e conquistas que não podemos desprezar.


• Tivemos também de relevante numa história mais recente o que chamo de movimento gospel no Brasil, caracterizado mais com formas musicais diversas(pop, rock, etc), bem diferente do gênero gospel original e da música cristã mais comportada feita até então, objetivando alcançar jovens. Uniu-se a esta ênfase, uma visão e estratégia de marketing para popularizar o gênero na mídia, aproveitando da experiência de homens de publicidade, e de um trabalho que hora surgia, o Renascer em Cristo, o que realmente acabou acontecendo.


• Brother Simeon, Katsbarnea desenvolvem um trabalho musical de grande influência entre adolescentes e jovens.




4. O que estamos vendo hoje e o que podemos fazer?


Hoje o que vemos é um leque enorme de opções para a música chamada cristã: o da adoração, o da evangelização, o do entretenimento, atrelada perigosamente ao pano de fundo comercial definitivamente instalado no meio evangélico, o que tem provocado incursões dos artistas e gravadoras seculares cujo objetivo único é explorar no “mercado que representamos”.


Inúmeros cantores, cantoras e grupos têm surgido também em nossas igrejas locais, em função desta realidade.


A mensagem do evangelho tem sido sucateada, colocada em segundo plano, escondida em letras superficiais e que não ajudam a pessoas a conhecerem mais do Deus das Escrituras Sagradas. Pobreza poética, excesso de preocupação com a imagem, mais do que com a fidelidade à mensagem do evangelho que professamos ou com a integridade dos músicos.


Prova disso são as inúmeras “conversões” a uma mensagem que não contém mais chamada ao arrependimento e a uma entrega total ao Senhorio de Cristo. Uma mensagem açucarada, facilitada, sem preço.


Precisamos buscar a excelência no que se faz, isto é, integridade mais beleza e competência no trabalho musical. Pouco se investe no discipulado responsável de músicos em nossas igrejas locais.


Precisamos de moralização e ética em nosso meio. Necessidade urgente de se respeitar direitos autorais e morais, e buscarmos ter um bom relacionamento com trabalhos e ministérios afins.


Fazermos músicas contextualizadas para nossa realidade urbana brasileira, que dignifiquem a mensagem que cremos e professamos. Precisamos de um culto público com uma linguagem que se identifique mais com as pessoas que queremos alcançar.


Reter o que é bom dos modelos que estamos buscando lá fora. Tivemos o momento de “kenolyzação do louvor” e de outros ministérios, como Hosana Music, Integrity, Vinyeard, todos com interesses não só ministeriais, mas comerciais, junto com suas estruturas que aportaram aqui. Pecamos sempre em absorver o que é massificado pela mídia à exaustão e perdemos outros referenciais.


Temos um caminho aberto e enorme para a música instrumental, já que temos hoje excelentes músicos que tem se levantado nas igrejas. Esta geração tem gerado um número enorme de competentes músicos, que precisam ganhar visão do Reino.


Fortalecimento do trabalho com coros, principalmente para ocuparmos espaços nos centros culturais, para a atuação artística e para a evangelização.


Continuarmos com clínicas, encontros, congressos, que nos levem à reflexão do que temos feito, que nos encorajem à uma vida mais consagrada na obra de Deus, usando a música como instrumento de adoração e evangelização.


Estarmos caminhando junto a associações que buscam um melhor desempenho no ministério da música e um bom testemunho do evangelho que abraçamos.



5. Conclusão


Que Deus nos leve para uma vida de adoração em oração, comunhão na Palavra, nos bons relacionamentos em nosso meio e num bom testemunho do evangelho. Que naquilo que fazemos para o Senhor, busquemos o melhor para a manifestação da Sua glória, sendo sal e luz do mundo! Que Deus nos ajude.

sábado, 6 de novembro de 2010

O EVANGELHO HETERÔNOMO

- Sobre o evangelho capenga das canções-
Finney continua sua refutação de várias teorias a respeito do fundamento da obrigação moral desta vez, após escrever sobre a teoria utilitarista, escrevendo sobre a teoria do direito como fundamento da obrigação moral. Segundo essa teoria, “a obrigação é de escolher o objeto de escolha última, não por causa da relação que existe entre a escolha e seu objeto, mas exclusivamente por causa do que é intrínseco ao objeto em si. A relação não é o objeto de escolha, mas a relação é criada pelo objeto de escolha. Qualquer que seja a escolha, a natureza ou o valor intrínseco do objeto, como o bem do ser, por exemplo, cria tanto a relação de justiça como a obrigação de escolher o objeto por ele mesmo”. Isso quer dizer que as pessoas que observam a realidade através dessa teoria escolhem fazer algo porque é direito, e apenas por isso. Essa teoria apresenta seres morais com obrigação de agir moralmente apenas porque a escolha ou intenção é correta ou direita. Isso é agir de acordo com algo externo; a intenção da ação tem seu valor no plano externo ao indivíduo pelo que ela é por si mesma, e não por causa do princípio que a gerou. Por exemplo, há segmentos do cristianismo que tem por costume a prática do confessionário. Digamos que uma pessoa peque e peça perdão ao sacerdote porque obteve a informação de que a ação era má e o conduziria ao inferno, mas não tenha se arrependido. Age-se, dessa forma, segundo o evangelho heterônomo. O valor da ação por ela mesma, nesse caso, é equivocado em seu princípio básico; pedir perdão pelo pecado é se arrepender de ter proporcionado um mal-estar a Deus e ao universo dos outros seres morais através da ação pecaminosa. Foi isso que o próprio Deus quis dizer nas Escrituras quando se referiu ao seu povo como gente que O honra com os lábios, mas que tem o coração longe dEle.

A heteronomia, segundo o teólogo Lourenço Stelio Rega, é algo que tem por fonte uma terceira pessoa ou os resultados esperados. Ela foi por muito tempo “representada pelo absolutismo que, em seus extremos, alcança o legalismo, onde a letra da lei é a norma que tem de ser obedecida a todo custo, para se evitar o castigo ou obter um benefício de Deus”.

O evangelho heterônomo continua em voga hoje quando temos pessoas indo à igreja apenas porque é correto, ou quando se dá o dízimo com medo de ser amaldiçoado, ou quando alguém se converte por motivos externos a conscientização interna, isto é, no seu espírito através do Espírito que conscientiza do pecado, justiça e juízo. Vive-se o evangelho heterônomo quando realizamos nossos cultos de libertação semanal não ensinando os princípios para que o cristão não venha mais necessitar de libertação rotineiramente; agir dessa forma é conveniente se se quer uma igreja cheia, abarrotada de gente.

Lourenço Stelio Rega afirma que o ideal é que achemos outra fonte para nossas ações. Ele diz que “em vez de considerarmos a lei em sua forma literal, é preciso antes levar em conta as razões primeiras que deram origem àquela forma legal, em busca dos princípios que estão por trás das formas literais”. O teólogo dá o exemplo do Sermão do Monte, no qual Jesus compara o chamar alguém de Raca com o homicídio. Jesus traz de volta a essência da Lei, equiparando os pecados ao nível do coração do homem. Mesmo que eu não tenha transgredido uma lei em específico, se causei a morte espiritual de um irmão, eu sou comparável a um homicida. Rega termina dizendo que isso “é o que chamamos de ética por princípios. [...], levam-se em consideração os princípios [...], que passam a ser o ponto de partida e chegada para as decisões”.

Que possamos extirpar esse evangelho heterônomo do nosso meio. Precisamos entender a motivação das leis, pois, assim fazendo, entenderemos a própria natureza do governo moral exercido por Deus. Deus quer que ajamos segundo o entendimento dos princípios de nossa ação, e não por eles mesmos.

* Referência: FINNEY, Charles. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.

* Referência: REGA, Lourenço S. Ética por Princípios. Consumidor Cristão, São Paulo: EBF, n. 67, p. 22, 2009.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O EVANGELHO UTILITARISTA

- Sobre o evangelho capenga das canções-
Ainda tendo como base o teólogo Finney, é necessário falar do evangelho utilitarista. Vou mostrar aqui que a crença no princípio pentecostal da “fé no bom Deus” nos faz agir de acordo com a relação de importância Interesse Próprio>Deus e que, por causa disso, nosso evangelho se fundamenta na utilidade daquilo que se deseja. Ao falar da teoria utilitarista como fundamento da obrigação moral, Finney nos dá um exemplo de como se pensa, ou se acaba pensando, se se tem como base essa teoria e se se age, conscientemente ou inconscientemente, através dela. Diz Finney que “a lei exige que amemos a Deus e ao próximo porque amar a Deus e ao próximo tende ao bem-estar de Deus, de nosso próximo ou de nós mesmos? É a tendência ou utilidade do amor que nos torna obrigatório exercê-lo? Quê! Desejar o bem, não por causa de seu valor, mas porque desejar o bem fará bem! [...] O que, portanto, deve ser intentado como  um fim ou pelo próprio valor dele? Seria a tendência do amor ou a utilidade da intenção última o fim a ser intentado? Deve ser, se o utilitarismo for verdadeiro”.

Ora, é exatamente assim que temos vivido. Quantos de nós desejamos ir à igreja não necessariamente para buscar o Senhor, mas para receber aquilo que de bom nos viria decorrente de tal ação? Digo-lhe que muitos! Muitos são aqueles que não vivem de acordo com os princípios que os tornam cristãos, porém, ainda assim, se comportam como bons cristãos durante as reuniões sociais que para eles se tornam os nossos cultos a fim de conseguir uma paz interior, uma dádiva ou mesmo demonstrar piedade sem necessariamente se conscientizarem de seus erros e se converterem de seus maus caminhos. Pessoas que vivem assim não têm compromisso com o Senhor a não ser consigo mesmas! E mais uma vez quero atentar meu leitor ao fato de que muitos agem dessa forma, mas muitas vezes não têm consciência disso. É a conseqüência da disseminação, através da facilidade de vivência de um cristianismo triunfalista, da interpretação pentecostal, e sua prática, de seu próprio princípio da “fé no bom Deus”.

O fim último do evangelho utilitarista, portanto, não considera aquilo que deveria ser, isto é, buscar o bem-estar de Deus e dos demais agentes morais, mas considera a busca pela utilidade daquilo que é bom e o quanto a busca por isso nos será útil. Os dois caminhos podem ser paralelos, mas não necessariamente seguem na mesma direção. Estar na igreja é bom. Porém, é óbvio que, se eu for à igreja com o fim último de obter um bem material, eu estou indo à igreja porque isso se tornou útil para que eu conquiste meu intento. Nesse caso, o amor a Deus, se estiver presente, não é o interesse maior da pessoa ou não lhe é útil como um fim. Rasga-se, assim, um princípio nos dado pelas Escrituras que é o de amar a Deus com toda a força, alma e entendimento ou de primeiramente buscar o bem-estar do Reino como fim último. Sobre isso nos diz Martinho Lutero que “onde sucumbe a fé e emudece a palavra da fé, surgem imediatamente em seu lugar as obras e as tradições das obras. Por esses motivos, como por um cativeiro babilônico, fomos exilados de nossa terra, [...]. Assim ocorreu com a Missa que, pela doutrina de homens ímpios, foi transformada em boa obra que eles denominam de opus operatum. Presumem que por ela tudo podem obter de Deus. A partir daí chegou-se ao extremo da insânia. Mentiam que a Missa tinha valor em virtude do opus operatum, [...]. E, nessa arena, fundaram aplicações, participações, fraternidades, aniversários e infinitos tipos de negócios de lucro e dinheiro”.

Se agirmos conforme os princípios bíblicos, estaremos vivendo, ou próximos de viver, um evangelho pleno, genuíno e robusto, sabendo e agindo de acordo com o verdadeiro fundamento da obrigação moral. Se não agirmos assim, seremos mais um cristão hodierno vivendo, e obtendo, as mazelas do evangelho capenga que é o evangelho pós-moderno.

* Referência: FINNEY, Charles. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.

* Referência: LUTERO, Martinho. Do Cativeiro Babilônico da Igreja. São Paulo: Martin Claret, 2008.