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Livro "Reflexões Sobre a Música Gospel Brasileira: Um Olhar Crítico", de José Ruy P. de Castro

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José Ruy Pimentel de Castro, ou Zé Ruy, é vice-presidente do Instituto Política Global, professor, músico, cantor, compositor e poeta. É bacharel em Relações Internacionais pela UVV, licenciado pleno em Letras-Inglês pela UFES e mestrando em Relações Internacionais pela UNLP (Universidad Nacional de La Plata/Argentina). Autor do livro de poesias "Tricotomo", pela CBJE, e do livro "Reflexões Sobre a Música Gospel Brasileira: Um Olhar Crítico", pela Oxigênio Books em parceria com a Arte Editorial. Seu nome artístico em suas obras musicais é Zé Ruy e sua última obra foi lançada em 2008 intitulada "Será Que Existe Alguém Pra Nos Salvar?". O artista faz parte do cast da gravadora Oxigênio Records.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O EVANGELHO UTILITARISTA

- Sobre o evangelho capenga das canções-
Ainda tendo como base o teólogo Finney, é necessário falar do evangelho utilitarista. Vou mostrar aqui que a crença no princípio pentecostal da “fé no bom Deus” nos faz agir de acordo com a relação de importância Interesse Próprio>Deus e que, por causa disso, nosso evangelho se fundamenta na utilidade daquilo que se deseja. Ao falar da teoria utilitarista como fundamento da obrigação moral, Finney nos dá um exemplo de como se pensa, ou se acaba pensando, se se tem como base essa teoria e se se age, conscientemente ou inconscientemente, através dela. Diz Finney que “a lei exige que amemos a Deus e ao próximo porque amar a Deus e ao próximo tende ao bem-estar de Deus, de nosso próximo ou de nós mesmos? É a tendência ou utilidade do amor que nos torna obrigatório exercê-lo? Quê! Desejar o bem, não por causa de seu valor, mas porque desejar o bem fará bem! [...] O que, portanto, deve ser intentado como  um fim ou pelo próprio valor dele? Seria a tendência do amor ou a utilidade da intenção última o fim a ser intentado? Deve ser, se o utilitarismo for verdadeiro”.

Ora, é exatamente assim que temos vivido. Quantos de nós desejamos ir à igreja não necessariamente para buscar o Senhor, mas para receber aquilo que de bom nos viria decorrente de tal ação? Digo-lhe que muitos! Muitos são aqueles que não vivem de acordo com os princípios que os tornam cristãos, porém, ainda assim, se comportam como bons cristãos durante as reuniões sociais que para eles se tornam os nossos cultos a fim de conseguir uma paz interior, uma dádiva ou mesmo demonstrar piedade sem necessariamente se conscientizarem de seus erros e se converterem de seus maus caminhos. Pessoas que vivem assim não têm compromisso com o Senhor a não ser consigo mesmas! E mais uma vez quero atentar meu leitor ao fato de que muitos agem dessa forma, mas muitas vezes não têm consciência disso. É a conseqüência da disseminação, através da facilidade de vivência de um cristianismo triunfalista, da interpretação pentecostal, e sua prática, de seu próprio princípio da “fé no bom Deus”.

O fim último do evangelho utilitarista, portanto, não considera aquilo que deveria ser, isto é, buscar o bem-estar de Deus e dos demais agentes morais, mas considera a busca pela utilidade daquilo que é bom e o quanto a busca por isso nos será útil. Os dois caminhos podem ser paralelos, mas não necessariamente seguem na mesma direção. Estar na igreja é bom. Porém, é óbvio que, se eu for à igreja com o fim último de obter um bem material, eu estou indo à igreja porque isso se tornou útil para que eu conquiste meu intento. Nesse caso, o amor a Deus, se estiver presente, não é o interesse maior da pessoa ou não lhe é útil como um fim. Rasga-se, assim, um princípio nos dado pelas Escrituras que é o de amar a Deus com toda a força, alma e entendimento ou de primeiramente buscar o bem-estar do Reino como fim último. Sobre isso nos diz Martinho Lutero que “onde sucumbe a fé e emudece a palavra da fé, surgem imediatamente em seu lugar as obras e as tradições das obras. Por esses motivos, como por um cativeiro babilônico, fomos exilados de nossa terra, [...]. Assim ocorreu com a Missa que, pela doutrina de homens ímpios, foi transformada em boa obra que eles denominam de opus operatum. Presumem que por ela tudo podem obter de Deus. A partir daí chegou-se ao extremo da insânia. Mentiam que a Missa tinha valor em virtude do opus operatum, [...]. E, nessa arena, fundaram aplicações, participações, fraternidades, aniversários e infinitos tipos de negócios de lucro e dinheiro”.

Se agirmos conforme os princípios bíblicos, estaremos vivendo, ou próximos de viver, um evangelho pleno, genuíno e robusto, sabendo e agindo de acordo com o verdadeiro fundamento da obrigação moral. Se não agirmos assim, seremos mais um cristão hodierno vivendo, e obtendo, as mazelas do evangelho capenga que é o evangelho pós-moderno.

* Referência: FINNEY, Charles. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.

* Referência: LUTERO, Martinho. Do Cativeiro Babilônico da Igreja. São Paulo: Martin Claret, 2008.

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