- Sobre o evangelho capenga das canções -
Fico a imaginar aquela mulher do fluxo de sangue (Mt 9.19-22) sem a coragem e ousadia de achegar-se a Jesus e tocar-lhe as vestes. Ela cria que poderia alcançar sua cura através daquele simples toque, que demonstrou que sua fé estava posta na figura de Jesus. Se não tivesse fé para agir dessa forma, muito provavelmente a mulher viveria o restante de sua vida com os mesmos problemas, indo aos mesmos médicos, e obtendo as mesmas respostas; as de que não era possível sua cura. Se não tivesse fé para ter a atitude de tocar em Jesus, a mulher seria mais uma na multidão, e mais uma dos que não tiveram coragem de tocar o Mestre.
Não é diferente hoje em dia. Vemos no meio do povo aqueles que vão onde Jesus está e não o tocam e aqueles que vão onde Jesus está e o tocam. Aqueles são os que vão à Igreja porque gostam de estar na presença de Jesus, ou perto Dele, mas não fazem nada para estreitar laços com o Mestre, não se posicionando espiritualmente; já estes são os que estreitam seus laços com Cristo e se posicionam espiritualmente, à semelhança da mulher com fluxo de sangue há cerca de dois mil anos.
A figura do cristão da atualidade é a de um cristão passivo, contemplativo e mal-acostumado. Primeiramente, devemos fazer jus ao fato de que as Igrejas assim os adaptaram. É interessante notar isso ao se fazer uma análise crítica de quantas são as músicas cantadas nos templos que se dirigem diretamente ao homem, ou quantas mensagens são feitas para agradar o público para que o pregador possa voltar mais vezes. Tudo isso faz com que as pessoas sentem nos bancos no culto e assistam ao “show” que se desenvolve perante elas, ao ponto de saírem do templo e falarem que “o culto hoje não foi muito bom”.
Além disso, coisas como “óleo de unção de Israel” ou “plantas para atrair as energias negativas de dentro do lar” são os modernos “amuletos” de muitos. Não é mais necessário tomar uma postura de servo de Deus e orar por cura, é necessário termos o óleo ungido trazido de Israel ou mesmo deixar que a planta que nos foi dada na Igreja faça o trabalho pesado de trazer uma “energia positiva” para o seu lar. O crente, enquanto isso pode, digamos, ficar assistindo TV.
Que falar, então, de muitos cultos de libertação? Anuncia-se em todos os lugares a noite do “desencapetamento total” como se fosse um serviço qualquer. Muitos pecam a semana toda, mas no dia do culto de libertação vão à Igreja “descarregar” todos os demônios de seus corpos, por exemplo. Em geral, não existem mais cultos para edificação do cristão a fim de que este possa enfrentar mais bem preparado as tentações que lhe fazem pecar. Se houvessem, o número de participantes seria reduzido, o que não é interessante para determinados pastores preocupados com o número de pessoas em sua Igreja. Opta-se, então, pelo culto que atrai mais pessoas: aqueles que prometem bênçãos, prosperidade e “vida boa”. E assim nossas igrejas ficam abarrotadas de crentes passivos, perpetuando-se a cara do cristão pós-moderno de acomodação e a cara das Igrejas como aquelas que condicionam o cristão a ser desta maneira.
Vejamos, então, a necessidade de nos voltarmos à Jesus e tomarmos a iniciativa de toca-lo, como aquela mulher do fluxo de sangue. É necessário sairmos da nossa acomodação a fim de que de Jesus saia virtude a nosso favor. Se Dele não sair virtude, de que adiantam sais, óleos e rosas consagradas?
Em suma, minha oração é a de que você, leitor, esteja atento à necessidade de exercitar o poder que lhe foi outorgado por Cristo. Ele disse que nos daria poder para pisar serpentes, escorpiões, expulsar demônios (Mc 16.17-18). Que nos adianta o poder de Cristo, então, se não tivermos a ousadia de usá-lo? Sejamos, portanto, verdadeiros discípulos de Jesus e não mais meros expectadores na multidão.
José Ruy P. de Castro (ou Zé Ruy)
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